AMCE Negócios Sustentáveis: Sustentabilidade Empresarial em Ascensão no Brasil

Ana Esteves, Fundadora e Consultora na AMCE, fala da sustentabilidade no Brasil. Também explica o quanto é necessário as empresas darem importância à sustentabilidade para preservar o futuro. Além disso, fala do papel da AMCE, suas realizações mais importantes e os seus planos para o futuro.

AMCE Ana Esteves

Como definiria o termo “sustentabilidade”?

É bom que se melhore o desempenho no uso de recursos, no gasto de energia e na prevenção das poluições mas precisamos rever, como sociedade, o nosso jeito de fazer negócios porque ele tem se mostrado nocivo de várias maneiras.

Sustentabilidade, na sua origem, é um termo que procura expressar a busca do ser humano por condições que viabilizem a sua permanência – e a permanência de outras formas de vida, necessárias à sua existência – no planeta a longo prazo. Nesse sentido, sustentabilidade representa a procura do ser humano por conjugar condições objetivas e subjetivas de sobrevivência e de qualidade de vida com condições mais gerais necessárias à preservação da vida em seu habitat.

No ambiente organizacional, no entanto, sustentabilidade costuma adquirir formatos que valorizam o pragmatismo. São duas as abordagens mais conhecidas. Uma delas adota como linguagem o chamado triple bottom line – e, simplificadamente, propõe que a organização negocie internamente e na cadeia de valor metas capazes de criar, ao longo do tempo, um equilíbrio dinâmico entre resultados econômicos, sociais e ambientais. A outra abordagem – que quase sempre aparece conjugada com a primeira – representa o esforço para se produzir mais empregando menos recursos, utilizando menos energia e gerando menores impactos ambientais. Ambas são bastante acessíveis às pessoas que atuam em ambientes organizacionais porque adotam uma linguagem simples e direta e porque as tarefas são pragmáticas e passíveis de quantificação. Além disso, rendem alguns dividendos em termos de imagem organizacional.

Algumas organizações, no entanto, em grande parte por conta da natureza da sua atividade, adotam sustentabilidade como eixo em suas estratégias de longo prazo. Para essas organizações, além do “dever de casa” de melhorarem o desempenho em termos do uso de recursos e energia e da geração de impactos ambientais, há o desafio de introduzir uma nova lógica de atuação, em que o econômico guarda grande dependência da leitura atenta de cenários futuros e da observação cuidadosa de aspectos sociais e ambientais socialmente legitimados. Sustentabilidade, nessas organizações, é construída por coletivos formados por diferentes públicos interessados, expressando o entendimento que não é possível “ser sustentável” sozinho. Relacionamentos, ao invés de indicadores, assumem assim grande importância; inovação, ao invés da manutenção de padrões, se torna essencial. Capacidade de pensar, ao invés da simples entrega de tarefas, é fator crítico de sucesso.

Será que o lucro é o único indicador do sucesso de uma empresa?

O lucro é, tradicionalmente, o principal indicador de sucesso de um empreendimento na sociedade capitalista, que é baseada em investimentos de que se espera retornos adequados. Pessoas fazem avaliações e projeções e tomam decisões importantes baseadas, principalmente, em indicadores econômico-financeiros. Por mais que sustentabilidade venha acenando com emergências sociais e ambientais que necessitam ser enfrentadas por todos, a lógica do capital tem se mostrado predominante no encaminhamento de soluções, o que talvez explique porque as ações sobre as quais não se pode construir uma certa expectativa de ganho econômico tenham tido, historicamente, vida curta.

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Entretanto, sabe-se que a realização do lucro nas organizações contemporâneas é cada vez mais resultante de um composto complexo de ações desencadeadas em que sustentabilidade tem um papel decisivo. Há um receio, que aumenta a cada ano, da destruição de valor econômico por conta de não se saber interpretar e lidar adequadamente com demandas sociais e ambientais que afligem a sociedade contemporânea. Os investidores, principalmente eles, têm olhado com interesse para a sustentação, no tempo, dos resultados desse composto de ações, mais do que apenas para o lucro realizado. O pressuposto é que se os administradores sabem lidar adequadamente com a complexidade têm maiores chances de maximização do lucro. Há, portanto, hoje, um conjunto de indicadores que respondem pelo sucesso de um empreendimento – e o lucro realizado no período não mais tão importante quanto era.

Hoje em dia, muitas empresas estão promovendo produtos sustentáveis. Será que e a “sustentabilidade” é uma simples tendência do momento?

Uma sustentabilidade construída no plano organizacional precisa se articular com as referências e o debate em curso na sociedade ou não se realiza como proposta. Uma sustentabilidade que serve apenas a interesses particulares, em geral de baixo significado social, não se abriga no mundo e, sendo assim, não tira dele um sentido válido que possa legitimá-la. Hoje não cabe mais reduzir sustentabilidade a economias de recursos ou a produtos verdes. Quem ainda insiste nisso é porque não entendeu nada. O que se quer é uma atitude de preservar a vida ameaçada – talvez essa seja hoje a principal emergência a ser enfrentada – e um novo propósito para as organizações, que leve gente em consideração. É bom que se melhore o desempenho no uso de recursos, no gasto de energia e na prevenção das poluições mas precisaremos rever, como sociedade, o nosso jeito de fazer negócios porque ele tem se mostrado nocivo de várias maneiras. As organizações que têm tido sustentabilidade no eixo de suas estratégias já entenderam isso e sabem, cada uma a seu modo, em que precisam mudar.

Poderia apresentar a AMCE Negocios Sustentáveis?

A AMCE foi criada em 1997, em uma época em que esse tema da sustentabilidade ainda ficava restrito a conversas em pequenos fóruns de empresários, executivos e bem poucos interessados. Para que se faça uma idéia melhor de como estávamos todos engatinhando, a Accountability havia sido criada apenas dois anos antes, em 1995, e o Instituto Ethos só foi criado em 1998. A AMCE talvez tenha sido a primeira consultoria brasileira de sustentabilidade e, com certeza, foi a primeira a introduzir a metodologia de construção coletiva no encaminhamento de soluções de sustentabilidade.

Hoje, a AMCE Negócios Sustentáveis é uma empresa especializada em sustentabilidade que atua com processos de mudança organizacional e projetos especiais nas áreas de gestão, educação e comunicação. Ao longo do tempo, a AMCE foi protagonista de algumas realizações importantes para o avanço desse tema no Brasil: em 2000 estruturamos o primeiro modelo de relatório de sustentabilidade para o Instituto Ethos e fizemos o primeiro estudo sobre valorização da diversidade para a OIT, que apresentamos em um fórum no Global Dialogue em Hannover. Em 2003 fizemos, para a UNICEF, seu relatório, pela primeira vez, com recorte de diversidade e construímos os primeiros indicadores de desempenho de organizações envolvidas com a implementação dos princípios do Global Compact. Em 2005 construímos os indicadores sociais para o Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo e em 2007 construímos com a Fibria, o Instituto Tomie Ohtake, o Instituto Ethos, a SOS Mata Atlântica, o Instituto Oikos e o Banco Santander o Projeto Corredor Ecológico do Vale do Paraíba. Desde a sua fundação, a AMCE esteve envolvida com questões de sustentabilidade de importantes empresas brasileiras.

Quais são as suas áreas de atuação?

A AMCE atua, basicamente, em três áreas: gestão, educação e comunicação da sustentabilidade. Em gestão orientamos tanto a estratégia quanto a construção de soluções de sustentabilidade no âmbito das relações dos nossos clientes com seus stakeholders; em educação, construímos com nossos clientes espaços de diálogo e aprendizagem que permitam inserir a perspectiva de sustentabilidade no cotidiano organizacional; e em comunicação trabalhamos com posicionamento institucional, relatórios de sustentabilidade envolvendo diferentes stakeholders e peças de comunicação.

Plantation

Em que tipo de projetos de sustentabilidade você está trabalhando no momento?

Hoje estamos orientando a estratégia de reposicionamento de uma empresa industrial a partir de um conjunto de referências atuais de sustentabilidade e acabamos de entregar um relatório setorial – integrando os resultados das diferentes empresas – e outro de um grande grupo de mídia. Estamos envolvidos também com a orientação de uma linha de ação voltada à valorização da diversidade para um cliente, com estudos na área de energia e com a publicação de dois livros: um para estudantes e pessoas interessadas narrando o processo de uma empresa que introduziu sustentabilidade como eixo de sua estratégia e outro, para um público mais especializado, que posso sintetizar como um diálogo entre a filosofia e a proposta de sustentabilidade.

Quais são as realizações mais importantes da AMCE?

Penso que citei alguns projetos de grande alcance acima. No entanto, não posso deixar de mencionar que cada projeto em sustentabilidade é único, construído especificamente para aquelas circunstâncias e, nesse sentido, achamos que todos os trabalhos em que estamos participando com clientes e parceiros são importantes para a ampliação da consciência de que passar a atuar observando certos limites das pessoas e do meio ambiente não significa perder valor. Por exemplo; o desenvolvimento da política de sustentabilidade de um dos maiores fundos de pensão da América Latina ou ainda a política de relacionamento com a comunidade, que envolveu representantes da comunidade local no entorno da unidades operacionais de uma empresa de celulose e papel.

Como você enxerga a AMCE Negócios Sustentáveis daqui a uns 5 anos?

No momento estamos trabalhando exatamente em um reposicionamento da AMCE, considerando que as organizações já estão em outro momento e que as suas demandas são mais complexas, bem mais interessantes e exigem o aporte de conhecimento diferenciado. Estamos investindo para trabalhar prioritariamente com questões complexas de sustentabilidade – que oferecem melhor retorno para nossos clientes e para a sociedade. Além disso, estamos fortalecendo a nossa atuação em comunicação porque identificamos uma certa estagnação nas agências e muita dificuldade das empresas envolvidas com sustentabilidade para comunicarem a sua identidade. No campo da educação, estamos começando a trabalhar com aprendizagens que valorizem o exercício do pensamento, uma exigência cada vez maior das empresas que estão mais avançadas e que não podem continuar adotando soluções simplificadas para dar conta das questões de sustentabilidade de seu setor de atuação. Então, daqui a 5 anos pretendo continuar trabalhando com soluções complexas em sustentabilidade, mais pertinentes para o mundo atual.

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