Universidade Politécnica: Excelência no Ensino Superior em Moçambique

20 anos atrás, a Universidade Politécnica foi a primeira universidade de seu gênero ; naquela época existiam apenas universidades públicas.

Entrevista com Lourenço do Rosário, Reitor da Universidade Politécnica

Lourenco do Rosario, Dean of Universidade Politécnica

Qual a sua avaliação sobre ensino superior em Moçambique e quais são os grandes desafios a serem enfrentados nesta área?

Ao nível da educação superior, os desafios passam pela consolidação de um programa de crescimento de ingresso de estudantes no ensino superior, assim como o acompanhamento de uma consolidação de oferta de qualidade desse mesmo ensino superior. Até 1995, só havia uma universidade e dois institutos superiores em Moçambique, todos eles públicos. A nossa instituição apareceu exatamente em 1995, como a primeira instituição privada de ensino superior. Havia uma grande pressão por parte do público e dos cidadãos para que houvesse um processo de expansão do ensino superior, e o país não estava preparado para acompanhar essa pressão política com um crescimento rápido de instituições do ensino superior. Hoje se passaram 20 anos e temos 50 instituições de ensino superior. Além disso, o número de estudantes aumentou de 12.000 a 150.000 estudantes. No entanto, este crescimento se fez acompanhar, na rede pública e privada, da preocupação em trazer fatores de qualidade para este crescimento (como por exemplo infraestruturas, equipamentos, corpo docente, laboratórios, bibliotecas, etc.) e também efetuar um alargamento da rede de cooperação internacional junto de centros mais avançados do ensino superior, de forma a realizar uma transferência de conhecimento científico, tornando os nossos quadros mais competitivos.

Lourenço do Rosário
Lourenço do Rosário

Quais são as vantagens competitivas da Universidade Politécnica?

Quando nós aparecemos no mercado, talvez a nossa maior vantagem tenha sido o fator “primeiros”. Entrámos num segmento que não existia nas universidades públicas, nomeadamente administração e gestão de empresas, informática de gestão, ciências da comunicação, psicologia organizacional e clínica, etc. Depois, começaram a aparecer outras instituições desenvolvendo trabalho nas mesmas áreas e tivemos de procurar outros nichos e melhorar o que já tinha sido criado. Foi nessa altura que entrámos nas áreas das auditorias e contabilidade, e também criámos programas de pós-graduação, porque até essa altura as pessoas iam para fora caso pretendessem seguir os seus estudos e fazer pós-graduações. Então, realizamos parcerias com instituições de Portugal, Brasil e Suécia, e conseguimos criar alguns programas neste âmbito. Isso nos trouxe vantagens competitivas.

No entanto, mesmo existindo uma grande expansão, a oferta continuou a ser menor que a procura. Tendo também existido um grande avanço do ensino secundário e pré-universitário, no fundo, ocorreu uma espécie de generalização. O público passou a procurar também áreas de direito e formação mais generalista, como no ensino público, e as instituições públicas começaram a oferecer o mesmo que nós para responder à demanda. Neste momento existia uma espécie de miscelânea de ofertas.

Por outro lado, o estado começou a criar institutos politécnicos e profissionais, que vieram tirar a vantagem competitiva que tínhamos até esse momento. Naturalmente, isso exigiu de nós uma maior expansão para as províncias, onde existem especificidades de desenvolvimento. Mas queremos manter sempre a ideia de que uma universidade não é um instituto de educação profissional. Damos formação específica, mas somos uma universidade.

Realizamos parcerias com instituições de Portugal, Brasil e Suécia, e conseguimos criar alguns programas neste âmbito. Isso nos trouxe vantagens competitivas.

Estão presentes em cidades fora de Maputo?

Sim, estamos presentes em Xai-Xai, em Gaza ; Quelimane na província de Zambézia ; Nampula e Nacala na província de Nampula e Tete na província de Tete.

Que tipo de instituição é a Universidade Politécnica e que tipo de currículos de cursos vocês oferecem?

Á medida que fomos crescendo como universidade, fomos criando nichos de atividades que nos permitiam oferecer mais serviços e criar mais receitas para a universidade. Nessa altura, percebemos que por sermos uma instituição privada existiam alguns programas educacionais no país para os quais não eramos elegíveis. Não podíamos concorrer a programas educativos de agências de cooperação internacional, ONGs e programas de Estado, e consequentemente desenvolver o nosso trabalho com a mesma competência de sempre.

Nessa altura, achámos que devíamos tentar penetrar nesta área e criámos a FUNDE (Fundação Universitária para o Desenvolvimento da Educação). A fundação vai fazer 3 anos de existência e com ela já fomos capazes de desenvolver programas que até então não podíamos desenvolver, como por exemplo prestação de serviços para as comunidades, oferecendo serviços a grandes empresas que tem tido algumas dificuldades junto das comunidades, por não conhecerem a realidade do pais. Neste âmbito, podemos desenvolver a relação entre as partes. Com a Anadarko por exemplo, desenvolvemos uma pequena formação interpessoal e intercultural, através de cursos para moçambicanos que visavam dar a conhecer os estrangeirados, e cursos para os estrangeirados que davam a conhecer a realidade moçambicana. Isto correu muito bem. Oferecemos estes serviços, porque por vezes pequenos equívocos na comunicação podem trazer grandes conflitos para as empresas e estas empresas pretendem evitar estas questões. A Vale por exemplo teve uma experiência negativa em Tete, ao tentar o reassentamento das populações, visando estabelecer as suas atividades mineiras. O erro foi terem trabalhado apenas com o governo, deslocando as populações e criando espaços comuns para inserir pescadores, artesãos, agricultores, etc., dando azo a grandes conflitos, não só entre as pessoas realocadas, como junto ao governo e à empresa. Ao termos tido conhecimento desta experiência negativa, aproximámo-nos da Vale e neste momento estamos desenvolvendo um trabalho de grande envergadura para eles, cobrindo toda a extensão da linha férrea, desde a província de Niassa até Nacala, envolvendo mais de mil famílias que serão deslocadas das cercanias da linha férrea e colocadas em outros espaços. O nosso papel é trabalhar com as populações, sensibilizá-las, fazendo-as aceitar os novos espaços e acompanhar a sua adaptação. Quando o projeto terminar, as populações ficarão estabelecidas e tudo será resolvido. Este é um programa de 3/4 anos. Está a correr bem.

Também estamos desenvolvendo programas ligados a créditos bancários junto aos bancos nacionais, em nome do mercado informal. Foi realizado um programa piloto com a agência francesa de cooperação, que nos permitiu fazer uma formação de gestão financeira e bancária junto destes pequenos negociantes.

Esses clientes são PMEs?

Não, eles não podem ser considerados pequenos negócios. São pessoas com pequenos espaços, muitas vezes nem existe uma empresa, apenas um pequeno espaço ou pessoas, que aqui chamamos de muqueiristas.

Universidade Politécnica - A Politécnica
Universidade Politécnica – A Politécnica

Poderia falar um pouco mais sobre os intercâmbios internacionais entre universidades?

Acreditamos que os intercâmbios podem fazer a diferença entre nós e as restantes universidades. Ao reconhecermos a nossa dificuldade em fazer face a algumas demandas do público sem parcerias com outras universidades, estabelecemos interações que oferecem mais aos nossos alunos do que o que conseguimos oferecer sozinhos aqui em Moçambique. Temos muitos acordos com outras universidades, aliás, há alguns dias atrás, chegámos a um acordo com a qualificada Fundação Dom Cabral no Brasil e estamos tentando propor aos estudantes a possibilidade de frequentar cursos executivos e financeiros no estrangeiro. No entanto, também temos acordos com universidades federais no Brasil e Universidades públicas em Portugal, principalmente o ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa) e a Universidade Técnica de Lisboa.

O que a Universidade Politécnica pode oferecer aos estudantes estrangeiros?

Nós tentamos penetrar nestas áreas e fazer uma espécie de triangulação. Porque acredito que a cooperação universitária deve promover a multilateralidade e não a bilateralidade. Por isso, tentamos aproximar-nos de universidades angolanas e até chegamos a deslocar-nos a Angola. Infelizmente o processo não avançou porque temos perceções diferentes. Penso que devemos trabalhar mais ao nível da AULP (Associação das Universidades de Língua Portuguesa) por exemplo, limando quaisquer diferenças de perceção e consagrando este nicho de cooperação multilateral. O Brasil, por exemplo, está disponível para esse tipo de triangulação e tem vindo a trabalhar com universidades portuguesas de uma forma triangulada, mas ainda não o faz connosco. No entanto, é uma das nossas metas, porque acreditamos nos ganhos de tal parceria. Infelizmente, ainda estamos a trabalhar de uma forma bilateral e não estamos muito satisfeitos, porque como não conseguimos produzir quadros que consigam estar ao mesmo nível de outros a nível internacional, esse intercâmbio acaba sendo uma prestação de serviços. Mas o que nós queremos é multilateralidade, queremos fornecer ciências, RH, etc., e não só receber o que os outros têm para oferecer.

Quais são as áreas que pretendem vir a oferecer a estudantes internacionais?

Tendo em conta a globalização, não podemos inventar e dizer que podemos oferecer informação tecnológica ou atividades de ponta. Mas em termos de estudos sociais e humanos, acredito que podemos perfeitamente ajudar a fazer crescer o conhecimento. Até porque, muitas vezes, recebemos estudantes de centros universitários que vêm para o nosso país pesquisar essas áreas e acredito que temos possibilidades de ajudar. Graças à nossa realidade atual, podemos perfeitamente ser equitativos na troca universitária.

Graduation at Universidade Politécnica
Graduação na Universidade Politécnica

Quais são os seus objetivos para a universidade daqui a uns 2/3 anos, se tudo correr como pretendem?

Acabámos de comemorar os nossos 20 anos de mercado e realizámos um seminário em Nampula para discutir tudo o que tinha sido feito até agora e o que ainda queremos realizar no futuro. Chegámos à conclusão de que é crucial preparar a passagem de testemunho. No futuro, já não seremos os dirigentes desta universidade, e precisamos preparar esta entrega, pois gerir uma universidade é algo muito sério. Devido as condições sociais e políticas do país, muitas vezes misturamos gestão universitária com gestão política e isso não favorece o ambiente universitário do país, uma vez que temos muita gente, de diferentes locais e com diferentes ideias, por aqui. Em segundo lugar, pensamos que é uma obrigação melhorar os quadros qualificados das universidades, pois existe um défice de quadros qualificados em todas as universidades do país. Por fim, queremos tornar a nossa universidade num espaço de excelência, capaz de concorrer internacionalmente com outras universidades.

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